segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Mali (séc. XIV)


Descrição Audiência Real no Mali do século XIV
Rihla de Ibn Battuta, 1356

“Instalam-se então um grande estrado com três degraus debaixo de uma árvore. É o pempi. É coberto de seda e guarnecido de almofadas. Por cima instala-se o guarda-sol, que parece uma cúpula de seda, no alto da qual se vê uma vê do tamanho de um gavião. O rei sai por um porta aberta num ângulo do castelo. Tem seu arco a mão e uma aljava às costas. Traz na cabeça um solidéu de ouro, fixado por uma pequena faixa também de ouro, cujas extremidades são pontiagudas como facas e com mais de um palmo de comprimento. As mais das vezes traz uma túnica vermelha e felpuda, feita com tecidos de fabricação européia, chamados mothanfas. Diante dele saem  os cantores, tendo na mão kanabir de ouro e prata. Atrás dele encontram-se cerca de trezentos escravos armados. O soberano caminha lentamente. Aproxima-se devagar e pára mesmo de vez em quando. Chegado ao pempi, deixa de caminhar e olha os assistentes. Em seguida sobe lentamente ao estrado, como o pregador sobe ao púlpito. Uma vez sentado, tocam-se os tambores e fazem-se soar as trompas e as trombetas”
BATTUTA, Ibn. A Través del Islam. (Trad., Introdução e notas: Serafín Fanjul; Frederico Arbós). Madrid: Alianza Literaria, 2006. p. 853.



“O Sultão tem uma cúpula elevada, cuja porta se encontra no interior do seu palácio e onde se senta com freqüência. Tem do lado das audiências três janelas em arco, de madeira, coberta de placas de prata, e por baixo delas três outras guarnecidas de lâminas de ouro ou de prata dourada. Estas janelas têm cortinas de lã, que são levantadas no dias da audiência do sultão na cúpula [...] da porta do castelo saem trezentos escravos, uns com arcos na mão, outros com pequenas lanças e escudos. Uns estão sentados, outros de pé. À chegada do rei, três escravos precipitam-se para o seu lugar-tenente. Chegam os comandantes, assim como o pregador, os sábios juristas, que se sentam à esquerda e à direita, diante dos homens de armas. À ponta, de pé, o intérprete dougha em grande aparato. Está soberbamente vestido, em seda fina. O seu turbante está ornado de franjas, que estas gentes sabem fazer admiravelmente. Tem a tiracolo um sabre, cuja bainha é de ouro. Nos pés, botas e esporas [...] tem nas mãos duas curtas lanças. Uma de prata, a outra de ouro. As pontas são de ferro. Os militares, o governador, os pajens ou eunucos e os mesufitas (mercadores berberes e sarakholés) estão sentados no exterior do lugar das audiências , numa longa rua, vasta e com árvores. Cada comandante tem diante de si os seus homens, com as suas lanças, os seus arcos, os seus tambores, as suas trompas (estas são feitas de marfim, com defesas de elefante), enfim, com seus instrumentos de musica feitos com caniços e cabaças, em que se bate com baquetas e que dão um som agradável (o xilofone, sem dúvida). Cada um dos comandantes tem a sua aljava às costas. Tem o seu arco à mão e anda a cavalo [...] no interior da sala de audiência e nas janelas vê-se um homem de pé. Quem deseja falar ao rei dirigi-se primeiro ao dougha. Este fala ao dito personagem que está de pé e este último ao soberano”.
BATTUTA, Ibn. A Través del Islam. (Trad., Introdução e notas: Serafín Fanjul; Frederico Arbós). Madrid: Alianza Literaria, 2006. p. 855.

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